Sophia De Mello Breyner Andresen – Jécoute


Sophia De Mello Breyner Andresen

J’écoute

J’écoute
J’écoute mais je ne sais pas
Si ce que j’entends est silence
Ou dieu
J’écoute sans savoir si ce que je perçois
Est l’écho des plaines du vide
Ou bien la conscience attentive
Qui aux confins de l’univers
Me déchiffre et me fixeJe ne sais qu’un chemin qui ressemble à celui
Que l’on regarde aime et connaît
Et pour cela je mets dans chacun de mes gestes
Solennité et risque.
Escuto
Escuto mas não sei
Se o que oiço é silêncio
Ou deus
Escuto sem saber se estou ouvindo
O ressoar das planicies do vazio
Ou a consciência atenta
Que nos confins do universo
Me decifra e fitaApenas sei que camino como quem
É olhado amado e conhecido
E por isso em cada gesto ponho
Solenidade e risco

Sophia De Mello Breyner Andresen, traduite du portugais par Raymond Farina


Sophia De Mello Breyner Andresen, traduite du portugais par Raymond Farina

La petite place

Ma vie a pris la forme de la petite place
L’automne durant lequel ta mort s’organisait
méticuleusement
Je m’attachais à cette petite place parce que tu aimais
L’humble et nostalgique humanité des petites boutiques
Où les commis plient et déplient rubans et étoffes
Je cherchais à devenir toi parce que tu allais mourir
Et là toute ma vie cessa d’être la mienne
J’essayais de sourire comme tu souriais
Au marchand de journaux au marchand de tabac
Et à la femme sans jambes qui vendait des violettes
Je demandais à la femme sans jambes de prier pour toi
J’allumais des cierges à tous les autels
Des églises qui se trouvaient au coin de cette place
Puisque dès que j’ai ouvert les yeux je ne vis que pour lire
La vocation de l’éternel écrite sur ton visage
Je convoquais les rues les lieux les gens
Qui furent les témoins de ton visage
Pour qu’ils t’appellent pour qu’ils défassent
La trame que la mort entrelaçait en toi.
A pequena praça

A minha vida tinha tomado a forma da pequena praça
Naquele outono em que a tua morte se organizava
meticulosamente
Eu agarrava-me à praça porque tu amavas
A humanidade humilde e nostálgica das pequenas lojas
Onde os caixeiros dobram e desdobram fitos e fazendas
Eu procurava tornar-me tu porque tu ias morrer
E a vida toda deixava ali de ser a minha
Eu procurava sorrir como tu sorrias
Ao vendedor de jornais ao vendedor de tabaco
E à mulher sem pernas que vendia violetas
Eu pedia à mulher sem pernas que rezasse por ti
Eu acendia velas em todos os altares
Das igrejas que ficam no canto desta praça
Pois mal abri os olhos e vi foi para ler
A vocação do eterno escrita no teu rosto
Eu convocava as ruas os lugares as gentes
Que foram as testemunhas do teu rosto
Para que eles te chamassem para que eles desfizessem
O tecido que a morte entrelaçava em ti.